Fim de Carreira

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Caros amigos,

não foi esta a forma que tinha idealizado para terminar a minha carreira desportiva, mas a vida tem destas coisas. Ainda assim, quero dizer-vos que termino feliz, com a certeza de dever cumprido e satisfeito com o meu percurso enquanto atleta de Karate de Alto Rendimento.

Recuando no tempo, recordo-me das minhas primeiras competições, no longínquo ano de 1996. Lembro-me de ser um miúdo magricela e pequenote mas com uma enorme garra e vontade de aprender.

Foi em Vila das Aves que tive o primeiro contacto com a modalidade, com o Mestre Joaquim Fernandes, no clube de Karate Shotokan de Vila das Aves, tendo sido levado pelo meu pai. Inicialmente,  iludido pelos filmes do Bruce Lee, VanDamme e Karate Kid, fui praticando Karate apenas porque queria fazer o mesmo que via. A verdade é que que nem sempre me mantive fiel à modalidade, tendo inclusivamente experimentado o futebol e o atletismo, no entanto, Touro de signo que sou, fui persistente, determinado e decido na minha opção pelo Karate.

Nesta caminhada, há várias pessoas que tenho de agradecer, desde a minha família, ao meu mestre, os meus amigos de clube, de seleção e a todos os outros que de uma maneira ou de outra ficarão na minha memória. Corro um risco enorme em colocar nomes, pois tenho a certeza que me vou esquecer de muitos, ainda assim, penso ter o dever de o fazer e referir muitas das pessoas que me ajudaram a atingir o sucesso: a minha esposa – Célia Machado; os meus filhotes – Eduardo Machado, Maria Machado e Margarida Machado; os meus pais – Joaquim Machado e Graça Machado; a minha irmã – Ema Machado; a minha avó – Maria Luísa; o meu Mestre: Joaquim Fernandes; os meus colegas de treino: Renato, Elisário, Sobral, Avelino, Sandra, Assunção, Paulo Araújo, Paulo Fernandes, Miguel Fernandes, João Leal, Tozé Leal, Filipe Andrade, César, Agostinho Ribeiro, Luís, Filipe Ferreira, Filipe Monteiro, Hugo Lima, Hugo Gouveia, Paulo Rodrigues, Daniela Rodrigues, Fernando, Vítor Hugo, Paulo Rompante, Tiago Lima, Ricardo Rodrigues, Miguel Lopes, João Meireles, Miguel Ramos, Sandra Gonçalves, Bárbara Machado, Carina Fernandes, Nazaré Lopes, Lara Teixeira, Ana Pinto, Emanuel Fernandes, Filipa Fernandes, Cátia Fonseca, Catarina Nunes, Álvaro Rios, Leonardo Barbosa, Jorge Azevedo, Diogo, Rui Tiago Almeida, Elisário Moreira (filho), “Tio” Teixeira, Sr. Meireles (pai), Ana Fernandes, Emanuel Martins, Fábio Miranda, Joaquim Lima, Nuno Lima, Pedro Oliveira, Marina Azevedo, René; aos meus amigos de seleção e não só: Nuno Moreira, Nuno Dias, Filipe Reis, Hugo Soares, Hugo Pina, Mauro Hernandez, Hélio Hernandez, Nuno Mestre, Vitalie Certan, Gonçalo Pinto, Inês Rodrigues, Jorge Caeiros, Pedro Pinto, Pedro Monteiro, Luís Silva, Patrícia Cardoso, Liliana Félix, Catarina Vilhena, Diogo Guincho, Tiago Guincho, Ricardo Sousa, João Pinto, João Oliveira, João Pedro Machado, Amílcar Ferreira, Rui Jerônimo, Fernando Ferreira, André Gonçalves, Daniel, André Perestrelo, Ricardo Carvalho, Manuel Loureiro, Jorge Peixeiro, João Duarte, André Vieira, Diogo Constantino, Afonso Queirós, Pedro Valadas, Filipe Silva, José Moreira, Daniel Santos, Ana Paula Ribeiro entre muitos outros; aos meus alunos mais velhos: Diana Silva, Shazod Yusupov, Sharznoza Yusupov, Miguel Martins e Diogo Machado; aos meus treinadores da seleção, desde a equipa que me selecionou em 2003, aos atuais: Pedro Gonçalves, João Dias, José Ramos, Joaquim Gonçalves, Vítor Gomes, Rui Diz, Estevão Trindade, Carlos Saúde; aos presidentes Raúl Cerveira e João Salgado; a três pessoas que foram muito importantes durante a minha “estadia forçada” na Madeira: Alberto Santos, Ismael Fernandes e Norberto Mendonça; aos poucos mas fantásticos patrocinadores que me apoiaram em determinados momentos da minha carreira: ao Karate Shotokan de Vila das Aves, Joaquim Lima (Joltex), Rui Areal (Clube do Rio), Ilídio Barros (Norte Marciais Sport), Manuel Oliveira (MOS), Pais e Mãe; ao Centro Português de Karate e à Federação – Federação Nacional de Karate – Portugal. Ao longo da minha carreira desportiva, outras pessoas foram importantes e marcaram momentos, a essas tenho de agradecer a forma como, de uma maneira ou de outra, me motivaram e ajudaram a prosseguir com os meus objetivos. Foram sem dúvida inúmeras as pessoas que me ajudaram nesta caminhada. A todos eles o meu sincero Obrigado e espero nunca as ter desiludido.

Mas voltando ao meu percurso desportivo, recordo com saudade o 5º Lugar alcançado em Marselha 2003. Tenho a certeza que não poderia ter feito mais do que fiz, embora tenha a certeza que se pudesse voltar atrás, não deixaria fugir aquela medalha. Ainda assim, fico feliz por terem sido várias as oportunidades que tive para lutar por lugares de pódio. Menos felizes foram os desfechos, com as medalhas quase sempre a escapar-me entre os dedos. Hoje vejo isso como uma aprendizagem, como uma lição de vida e, acredito verdadeiramente, que a “estrelinha” que me faltou nessas alturas, foi a mesma que me esteve comigo na Madeira e no acidente de viação de 2010. A vida tem destas coisas!

Não me posso esquecer, também, do Prémio de Mérito Desportivo atribuído pela Confederação do Desporto de Portugal a 27 de Novembro de 2003. Nesse dia tive a honra e o prazer de conversar com o Pantera Negra – Eusébio e jantar frente a frente com o Prof. Moniz Pereira. Guardo também com bastante orgulho as distinções feitas pela Câmara Municipal de Santo Tirso e Câmara Municipal de Vizela, que me agraciaram com as medalhas de mérito desportivo.

Dito tudo isto, nada seria possível sem trabalho, esforço e determinação. Foram muitos os anos em que acordei às 06h30 da manhã para treinar, depois ia para a escola, para a universidade e, por último, para o trabalho. Ao final do dia, voltava a treinar, entre as 19h00 e as 22h00 e dava aulas. Não havia pausas para feriados, datas festivas, passagens de ano ou natais. Muitas foram as horas a treinar num local frio, húmido, com cheiro a gasolina, mas onde me encontrava e fazia o que mais gostava. Muitas foram as horas em que um mero saco foi o meu confidente, amigo, psicólogo e treinador. Muitas foram as horas em que sofri mais do que me diverti mas no final, o sentimento de dever cumprido era avassalador. Aliás, a vida é feita de equilíbrios, senão vejamos, não há vida sem morte, alegria sem tristeza, dia sem noite, vencer sem perder e derrota sem vitória. Desde que me conheço que procuro esses equilíbrios.

Ao nível das minhas conquistas em território Nacional, recordo-me de quatro com maior saudade.

1. O II Torneio Internacional de Portimão em 2001. Nessa altura, com apenas 15 anos combati no escalão de sénior. Lembro-me como se fosse hoje por ter sido a maior tareia que levei numa competição. Ainda hoje me recordo de olhar para os meus colegas de equipa e dizer que não aguentava mais. A verdade é que continuei e a equipa conseguiu uma fabulosa vitória na final frente à Espanha.

2. O meu primeiro título de sénior, logo no meu primeiro ano de júnior, tendo nesse ano acumulado os dois títulos de campeão nacional.

3. O título de campeão nacional conquistado em 2009 (7º título). Relembro este título com alguma mágoa, pois a minha vitória impossibilitou que um dos meus ídolos não terminasse a carreira da forma que tinha imaginado e da forma que merecia. Ainda hoje, se pudesse voltar atrás, e soubesse da intenção do Fernando Ferreira em abandonar a competição após aquele combate, tudo teria sido certamente diferente.

4. Por último, o meu último campeonato nacional que fiz em março de 2012, tendo conquistado o meu 11º título Nacional em individual. Nessa altura, sabia que o fim estaria próximo e sabia que não poderia dar mais de mim do que tinha dado nas duas épocas anteriores.

A nível internacional, destaco três momentos.

1. O mundial de 2003, por ter sido o primeiro e por tudo o que representou para mim.

2. O Campeonato da Europa em 2011, provavelmente na melhor época da minha vida, onde deixei a medalha de bronze fugir a escassos segundos do fim, para o Super Campeão William Rolle.

3. A medalha de Bronze conquistada em Itália numa prova da Golden League, em 2011, que justificou todo o sofrimento, privações e lutas que tive em toda a minha carreira. Foi sem dúvida a medalha mais saborosa que alguma vez alcancei.

Hoje, espero ter deixado uma marca no Karate Nacional. Mais do que medalhas e glória, sempre pretendi que as pessoas, principalmente os mais jovens, olhassem para mim como uma referência, um exemplo de querer, esforço, atitude, respeito, abnegação, coragem e carácter, tudo o que acho sem importante para vencer, seja num desporto seja na vida.

Concluindo, e porque o texto já vai mais longo do que pretendia, desde 2012 que tinha feito uma pausa na minha carreira, tendo apenas competido em 2 provas em 2014. Hoje, 21 de setembro de 2015, anuncio que me retiro definitivamente do Karate Desportivo, de Alto Rendimento.

Faço-o sem mágoa, faço-o com sentimento de dever cumprido, faço-o feliz e acima de tudo, faço-o porque acho que chegou a hora!

Ficam os vídeos, as fotografias e as memórias.

Obrigado a todos e um forte abraço daquele que era conhecido como o “Machado”.

Por quem? Por Portugal|

Oss.

Vila das Aves,

21 de Setembro de 2015

Jorge Machado401898_421814084525398_1253099498_n

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